[Artigo] Educação e Aprendizagem: contribuições da Neuropsicopedagogia para família e escola

Vivemos um momento histórico marcado por circunstâncias que nos apontam na direção da iminente implementação de perspectivas e tendências antes imaginadas somente num futuro remoto. Mudanças que envolvam o cenário dos negócios, a economia, o trabalho e a educação tornam-se imperativas. A HUMANIDADE comunga de apenas uma certeza neste momento: não mais existe o estado “normal” das coisas.

As famílias e as escolas, em meio às novas demandas financeiras, tecnológicas e de trabalho, ainda permanecem com seu compromisso acerca da tarefa de educar e, diante disso, apreensões e questionamentos nascem e se instalam em nosso cotidiano de forma enraizada (Como ficará o ano letivo? Quando as aulas retornarão? Não consigo fazer meu filho assistir à aula online. A aprendizagem dos nossos filhos e alunos está prejudicada?).

Entre fatos e falácias, surgem as dúvidas. Pais, educadores e gestores educacionais dividem-se em seus posicionamentos e recorrem a médicos, psicólogos e a profissionais diversos em busca de respostas sólidas. É, em meio a este mar de incertezas, que nós, neuropsicopedagogos, podemos colaborar para o processo de aprendizagem das crianças e adolescentes, apontando aos pais, educadores e gestores caminhos mais seguros e fundamentados.

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UM CAMINHO: A NEUROPSICOPEDAGOGIA.

A neuropsicopedagogia estuda a aprendizagem humana, visando a promover seu potencial e superar suas dificuldades. Seu ponto inicial são as neurociências aplicadas à educação em diálogo constante com a Pedagogia e a Psicologia Cognitiva, e, quando o assunto é “como será o ensino daqui em diante”, a orientação de ouro aos responsáveis e às escolas é: analisar as possibilidades em nosso presente para se fazer o melhor à luz de conhecimentos sólidos sobre a aprendizagem.

Assim, uma pergunta torna-se imprescindível: diante dos indicadores sobre o desenvolvimento e aprendizagem de nossos escolares, considerando suas respectivas a faixas etárias, como é possível adaptar e reorganizar sua rotina de estudo?

A aprendizagem humana é influenciada por questões pessoais, sociais, pedagógicas e emocionais (Russo, 2017). O debate em torno da saúde mental imposto pela condição de isolamento social, tanto de crianças, adolescentes e adultos está, neste momento, no radar de movimentos profissionais da psicologia e de áreas médicas mais específicas. Possibilidades construíram-se através da disponibilização de sessões de terapia virtualizadas e da aplicação de protocolos da OMS (Organização Mundial da Saúde) para atendimentos ambulatoriais e clínicos por especialidades médicas considerado o atual contexto. Tais contratos protocolares reservam-se às atividades em atendimentos individualizados, reguladas pelos respectivos conselhos e associações responsáveis pela orientação e atuação dos profissionais. No entanto, a escola, cujo espaço tem princípio coletivo, acaba “à deriva”, recebendo instruções genéricas, e,

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muitas vezes desencontradas, acerca dos procedimentos para continuar mantendo de pé uma estrutura didática e metodológica que já é, historicamente, deficitária.

Estamos falando de uma estrutura com atual papel social confuso, que se perde e não consegue se reconstituir frente às demandas atuais. Em face disso, há de se observarem exemplos em que várias pessoas de diversos seguimentos sociais justificam que o isolamento social, principal motivo da suspensão das aulas em espaços institucionais, está contribuindo para repensarmos o papel da família e da escola na educação das nossas crianças, adolescentes e jovens.

Não há dúvida de que realmente esteja acontecendo, entretanto não é possível simplificar um fenômeno que já permeia, há tempos, a relação entre família e escola: a culpabilização. Qualquer tipo de deficiência passava a ter justificativa, fosse pelo baixo rendimento escolar (BRE), fosse pela falta de recursos didáticos, pela estrutura física deficitária com salas cheias ou pela falta de tempo das famílias para ajudar suas crianças nas tarefas escolares.

Neste momento, meras justificativas não apontam nortes à solução para adaptar a vida escolar das nossas crianças à nova realidade de pandemia, que, segundo estudiosos e pesquisadores, deve passar, ainda que em tempo não mensurável.

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A NEUROPSICOPEDAGOGIA, através da efetiva parceria família – escola, oferece-nos uma condição fundamentada de análise das ações educacionais, um norte real ao avanço nos estudos de meios e formas para conhecer e reconhecer as formas e os meios de aprendizado dos nossos filhos e alunos.

Família e Escola: características e diferentes cenários

A neurocientista Adele Diamond (2009) explica que as funções executivas, essenciais para a aprendizagem humana, têm seu desenvolvimento e funcionamento prejudicados pelo estresse. O envio de vultosas listas de tarefas, agendadas em aproximada conformidade ao tempo de permanência do aluno na atividade ou o apontamento impessoal de livros didáticos que deverão ser lidos durante “ uma semana de aula” contribuem, mais efetivamente, para a geração de estresse do que para a aprendizagem. Tal situação, aliada ao fato de que as crianças convivendo integralmente em suas casas (espaço físico, até então, com um outro significado para elas) deixa ainda mais conturbada a forma como deve-se deve estudar neste tempo de pandemia.

Em grande parte das famílias, em período pré-pandêmico, a escassez de tempo, por conta de atividades profissionais dos responsáveis, já era uma realidade. O que se agrava, em face do atual cenário, é que as famílias têm ainda menos tempo, pois, além das tarefas cotidianas de um lar, assombra-as a manutenção do emprego e sustentação financeira. O tele-trabalho foi a forma que muitas empresas e instituições encontraram para adaptar sua atividade ao isolamento social, no entanto, apenas em alguns raros casos, previu-se um assessoramento às pessoas na organização do tempo e do espaço, em meio a suas vidas pessoais e domésticas, para o recebimento das atividades laborais.

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Indispensável, também, é a análise da realidade que assola a maioria da população brasileira. Há comunidades em que a situação é ainda mais complexa: favelas, cidades muito pequenas de interior em que não há sequer saneamento básico, acesso à internet ou sinal de TV e, em muitos casos, grupos numerosos de pessoas dividem o mesmo espaço, com pouca comida e nenhum conforto. Aprender torna-se um desafio ainda maior.

Ainda que extremamente diversa a realidade brasileira, a Neuropsicopedagogia pode contribuir na compreensão de como a família e a escola, juntas, podem caminhar nos avanços da aprendizagem através dos estudos. A clareza sobre o desenvolvimento e aprendizagem dos nossos filhos e alunos é a base do planejamento para as melhores formas de ensinar.

Escola para todos em tempos de pandemia

Do ponto de vista das neurociências, a aprendizagem ocorre à medida que processamos em nossa mente os estímulos captados através dos nossos sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato. Em Tovar-Moll & Lent (2018, p.56), diz que a aprendizagem

“(…) envolve um indivíduo com seu cérebro, capturando informações do ambiente, mantendo-a por algum tempo, e eventualmente recuperando-a e utilizando-a para orientar o comportamento subsequente. O conceito de aprendizagem superpõe-se largamente com o de memória, embora ambos devam ser distinguidos considerando memória como o processo completo, e aprendizagem apenas com o estágio de aquisição.”

Isso quer dizer que algumas condições para aprender independem de cenários específicos, apesar de eles possuírem elementos capazes de influenciar neste processo. Tempo e espaço, por exemplo, independente da rotina das famílias, terão de ser dedicados e organizados em prol dos estudantes em seus respectivos lares, bem como o trabalho também necessita da organização em face dessas mesmas variáveis.

Reconhecendo tais demandas, não podemos esquecer que a mediação do processo de aprendizagem ocorrerá sem a presença do docente, e este, por sua vez, dentro da estrutura escolar, a qual possui um currículo formal a ser seguido, vê-se diante de um desafio sem precedentes acerca do compromisso da educação.

É importante que a escola compreenda o fato de as famílias não possuírem as mesmas condições de ensino disponibilizadas pelas instituições, ainda que elas – as famílias – devam assumir uma parte da responsabilidade no processo de aprendizagem de seus filhos. Portanto, é imperativo perceber aí uma parceria na busca de reunir medidas acessíveis a ambas e aos estudantes promovendo a continuidade do estudo in home de forma viável e assertiva.

Vejamos como a escola, através da gestão pedagógica, pode organizar o ensino em parceria com docentes, e mais ainda, dando um passo ao encontro das necessidades das famílias. Inicialmente, é necessário entender que:

a) A escola não é a fonte exclusiva de conteúdos curriculares, mesmo que, em alguns contextos, o livro didático possa ser o único recurso à disposição das famílias no momento.

b) O diálogo com as famílias, responsáveis e estudantes, deve ser periódico em concomitância às rotinas de estudo.

c) Compreender que a estrutura de tempo de estudo não é o mesmo que tínhamos na escola pré-pandêmica, e, neste momento, é importante orientar pais como deverá ser o espaço adequado de estudo.

d) A escola pode entregar, semanalmente, um roteiro de estudos às famílias, orientando detalhadamente como os responsáveis deverão agir com seus filhos neste momento.

As famílias, no entanto, precisam compreender que será necessário incluir em sua rotina uma quantidade de tempo maior para o acompanhamento de seus filhos às atividades escolares. Tempo que, muito provavelmente, será maior do que era dedicado nas tarefas no momento pré-pandêmico. Assim, é importante:

a) Definir um momento do dia que seja mais adequado para envolver todos nos estudos. Se houver mais de um estudante na casa, é necessário analisar se, conforme a faixa etária, não seria melhor otimizar o período de estudos em momentos diferentes para cada um. Essa é uma construção muito específica de cada família e pode ser orientada pela escola.

b) O local a ser utilizado não deve possuir, em primeira instância, TV ligada, música, celular disponível e tocando o tempo todo entre outros objetos que possam distrair os estudantes ou responsáveis.

c) Observar a luminosidade, organizar os materiais para o momento e sempre estar atento à quantidade de tempo nos estudos. Exceder o tempo previsto pode causar um desgaste à família.

d) Os responsáveis também devem estar abertos ao diálogo com as escolas, através do contato com a gestão pedagógica e com os docentes. Assim, estarão melhor amparados para seguir com seus filhos neste processo.

Sugestões para implementações de ações:

Disponibilização de tempo: os responsáveis necessitarão reservar um tempo de sua rotina para conversar com a escola, ao passo que ela poderá periodicamente propor momentos de diálogo sobre a melhor forma de organização dos estudos. Lembrem-se: os pais trabalhavam no momento em que seus filhos estavam na escola no momento pré-pandêmico. Assim, talvez caberá à instituição flexibilizar seus horários para atender os responsáveis. Afinal, conciliar a necessidade de sustentação financeira com os estudos dos filhos é algo necessário a todos.

Recursos Digitais: professores ou gestores pedagógicos poderão agendar reuniões quinzenais com os responsáveis e explicar o roteiro de estudos da semana. Podem utilizar aplicativos gratuitos de reuniões. No caso da falta de acesso das famílias a este recurso, A instituição deverá elaborar comunicados escritos que poderão ser retirados nas escolas, ou, enviados às famílias.

Rotina de Estudos (escola): a escola pode indicar um tempo diário de estudo, com ajuda dos seus docentes, conforme a faixa de idade de cada criança (1h por dia, por exemplo). Ela poderá pré-selecionar conteúdos que se alinhem à proposta do ensino mediado pelas famílias, criando, assim, um plantão de dúvidas para pais. Algumas estratégias didáticas podem ser propostas como: treino de habilidades através de jogos simples, estudo dirigido para aprofundamento de conceitos, produção textuais, pesquisas sobre diferentes assuntos, uso de aplicativos específicos, aulas virtuais síncronas e assíncronas, entre outros. O importante é que os estudantes possam estudar articulando momentos autônomos com outros em que terão a mediação dos pais.

Rotina de Estudo (responsáveis): estruturar sua agenda diária considerando o momento de estudos com seus filhos. Assim, uma vez na semana (no domingo, por exemplo) poderão planejar suas atividades, conciliando o trabalho, os filhos e as tarefas domésticas. Procure o plantão de dúvidas da escola sempre que necessário, relate as suas dificuldades e de seus filhos para receberem orientações. Leia os roteiros de estudos e busque compreender as estratégias oferecidas pela escola através dessa

ferramenta. Uma simples ligação para a escola, pode ajudar muito os responsáveis e, respectivamente, os estudantes.

Sendo possível, a escola deverá disponibilizar o planejamento dos estudos com uma semana de antecedência aos responsáveis, assim conseguirão auxiliar melhor seus filhos em rotinas de estudo. Indicar sites de pesquisa, aplicativos de jogos, vídeos para os pais, também pode ser um recurso interessante.

Também nós, neste momento, teremos de compreender que as disciplinas curriculares deverão se ajustar a uma nova realidade de tempo. Portanto, muito diálogo entre os gestores pedagógicos e docentes será extremamente necessário para a elaboração consistente dos roteiros de estudo semanais a serem enviados às famílias.

Angelita Fülle
Neuropsicopedagoga Institucional
Coordenadora do Núcleo de Neuropsicopedagogia da Faculdade Censupeg
  • BEAR, Mark F; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências: desvendando o sistema nervoso.4ª ed, Porto Alegre: Artmed, 2017.

  • KANDEL, Eric R. et al. Princípios de Neurociências. Porto Alegre. AMGH, 2014

  • LENT Roberto; BUCHWEITZ, A. MOTA, M. B (org). Ciência para Educação: uma ponte entre dois mundos. São Paulo, Editora Atheneu: 2018.

  • LIBÂNEO, José Carlos. Educação Escolar: políticas, estruturas e organização. 10ª ed. São Paulo: Cortez, 2012.

  • PAPALIA Diane E.; FELDMAN, Ruth Duskin. Desenvolvimento humano. 12ª ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2013.

  • POLANCZYK, Guilherme V. O custo da pandemia sobre a saúde mental de crianças e adolescentes. Disponível em: https://jornal.usp.br/artigos/o-custo-da-pandemia-sobre-a-saude-mental-de-criancas-e-adolescentes/. Acesso em 25 de maio de 2020.

  • RUSSO, Rita Margarida Toler. Neuropsicopedagogia Clínica: introdução, conceitos, teoria e prática. Curitiba: Juruá. 2015.

  • _______, Rita Margarida Toler. Neuropsicopedagogia Institucional. Curitiba: Juruá. 2018

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